segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Memórias de Araruna: Relembrando Alain Delon

Alain Delon
Alain Delon de Pontes Costa, nasceu no dia 23/02/1967 em Campina Grande, Paraíba. Filho de Otávio Elias da Costa e Marta Mousinho de Pontes. Foi ator, radialista, político e ativista cultural.

Tudo leva a crer, que seu nome foi inspirado no ator francês Alain Fabien Maurice Marcel Delon, quis o destino que o Alain Delon paraibano também se tornasse ator.

Um homem com espírito revolucionário, que marcou em Araruna uma geração de pessoas, com sua personalidade forte, dedicado as artes, era combativo as desigualdades e opressões que historicamente marcam a conjuntura social.


Os textos em seguida, são  compilado do que o poeta e agitador cultural, Jairo Lima, possuidor de uma sensibilidade artística valorosa, nos narra sobre sua convivência durante a infância com Alain Delon. do qual se considera uma espécie de "seguidor".


     Jairo nos diz:
      
      
Identidade funcional da Rádio Integração do brejo. Fonte: André Santana. 


  "No início da década de 90 em Araruna, apareceu um certo cacimbense, que com seu talento incrível, sua ousadia inquieta e seu carisma, não poderia deixar de causar revoluções e provocar polêmicas em nossa cidade com seus projetos, onde sempre procurava propagar suas ideologias. Com tais atitudes, o rapaz muitas vezes pagava altos preços. Porém, em momento algum se intimidou e deixou de levantar sua bandeira, pois tinha consciência de que sua luta não era em vão, percebeu que pouco a pouco, congregava seguidores."

Alain interpretando um bêbado, década de 1990.
Fonte: Jairo Lima.

"Conheci Alain Delon de Pontes Costa no ano de 1991, quando, eu ainda menino, freqüentava os estúdios da recém fundada Rádio Serrana. Nesse período Alain Delon, um jovem de Cacimba de Dentro que acabara de chegar para reforçar o time de locutores da mais nova emissora de rádio da região, juntamente como o já criado Grupo Serra de Teatro de Araruna, fazia sucesso com a encenação da Paixão de Cristo daquele ano e com a mega produção da rádio-novela Amor Cigano e da minissérie Filhos do Silêncio, cujas foram ao ar através da Rádio Serrana AM e tinham uma grande audiência não só em Araruna, mas em cidades circunvizinhas do Rio Grande do Norte."


Alain Delon em uma estação radiofônica, década de 1990.
Fonte: Jairo Lima.
 "Minha primeira oportunidade de conversar com o teatrólogo e de falar sobre a admiração pelo seu trabalho se deu numa certa manhã, quando eu fui acompanhar seu programa de rádio ao vivo e a cores no estúdio B da Rádio Serrana.  Ao final do programa, Alain me pediu para lhe ajudar levando até a casa de Julieta de Lourdes (local onde o mesmo se hospedava aqui em Araruna, logo quando o mesmo veio trabalhar na cidade) algumas sacolas, eram frutas que tinham sido levadas por um ouvinte seu da zonal rural, se não me engano eram mangas. 

Saímos e no caminho conversamos bastante e ao chegarmos à casa de Julieta recebi de Alain Delon algumas moedas como gorjetas pelo meu trabalho e a promessa que iria fazer parte do Grupo Serra de Teatro. A promessa se concretizou e poucos meses depois eu fui convidado para fazer parte do elenco da minissérie de rádio Um homem, uma mulher e, no ano seguinte, participei do espetáculo da Paixão de Cristo.

Nessa altura Alain Delon, por desentendimento com a administração da Rádio Serrana, tinha deixado a emissora, porém com isso não se abateu e continuou sua caminhada rumo aos seus ideais, ainda bem mais fortes e com sua sede de justiça mais aguçada do que nunca. Nesse clima de revolta Alain Delon montou a polêmica peça Podres Poderes, que tinha como trilha sonora a música homônima de Caetano Veloso, cuja peça teatral, eu, ao lado do próprio Delon, Júlia Carmem e Marcelo Ramos, encenamos no Clube 14 de Julho em Araruna - PB, e no Tacima Clube em Tacima - PB e na cidade de Dona Inês - PB.  



O jovem Alain discursando na sede do PT ararunense, década de 1990.
Fonte: Jairo Lima.
Em 1992, ano de eleições municipais, Alain Delon entrou para a política e disputou pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro) uma vaga de vereador na Câmara Municipal de Araruna. Apesar de seu carisma e empenho durante a campanha, não conseguiu votos suficientes para se eleger, apena 51 votos.

Perseverante, Alain Delon esperou quatro anos e em 1996 se lançou candidato pela coligação PT/PSB, dessa vez para disputar a vaga de prefeito, como vice tinha a colega de teatro, Valnete Morais (falecida em 2004). Alain Delon (agora no PT), esteve num embate de Davi contra Golias, os seus concorrentes foram o candidato eleito no pleito, Benjamin Maranhão Neto (PMDB), herdeiro de oligarquia que estava em hegemonia política há algumas décadas no município e Cláudio José, filho do maior líder oposicionista á época, Raul Câmara. 


Resultado do pleito de 1996. Fonte: TRE-PB.

Desacreditado pelas grandes lideranças políticas locais, Alain Delon obteve 652 votos, o que demonstrava estar conquistando a credibilidade do eleitor do município, após isto, tornou-se forte nome de oposição ao grupo Maranhão, fazendo constantes denuncias e recebendo as mais diversas retaliações. 

Alain Delon junto de seu grupo teatral em encenação da Paixão de Cristo, entre eles Jairo Lima.
Foto: Década de 1990. Fonte: Jairo Lima

Jairo Lima ainda nos narra: 

"Passadas as eleições de 1996, Alain Delon dedicou-se unicamente a seu programa na Rádio Integração do Brejo em Bananeiras/PB, para onde viajava em uma moto cedida pelo pároco de Araruna, Pe. Cristiano Mufller, e também ao teatro, mais precisamente a Paixão de Cristo. Em 1997, houve espetáculo realizado no Estádio de Futebol Demóstenes da Cunha Lima, para uma multidão de espectadores que lotaram por completo as arquibancadas, onde muitos se emocionaram com o tom de realidade mostrado em cena pelos atores. Não sabia Alain, porém, que esta Paixão de Cristo que seria a última da sua vida. 

O espetáculo contou com a participação de alguns atores de fora,  como o alemão Sebastian, que interpretou Jesus Cristo e o guarabirense Elias dos Santos, que encenou o diabo. Alain Delon, naquele ano interpretou o personagem Pilatos e surpreendeu toda platéia quando surgiu em cena montado a cavalo. Sem dúvidas nenhuma Araruna vivia seus dias de "Nova Jerusalém”.  Lamento não ter participado deste derradeiro momento de Alain encenando". 



Morre o homem, fica as boas lembranças

Era início de 1998, Alain Delon e o Grupo Serra de teatro começavam os primeiros ensaios para a Paixão de Cristo daquele ano, onde pretendiam repetir a emoção e o sucesso do ano anterior. A novidade de 98 era que o espetáculo retornava para a Praça Rio Branco, centro da cidade e local das primeiras apresentações do grupo. Porém, tudo não estava para acontecer conforme o esperado, pois uma fatalidade estava a caminho daqueles jovens.

Alain Delon em papel bíblico na igreja matriz de Araruna.
 Foto: Década de 1990. Fonte: Jairo Lima.
No início da noite de 22 de março, um domingo como outro qualquer, Alain Dellon, após passar o dia inteiro com um grupo de amigos bebendo e se divertindo em uma cachoeira na zona rural de Araruna, pilotava sua moto no Centro da cidade para a "Bairro da Palha", quando, ao passar no cruzamento da Rua João Pessoa com a Dr. Castro Pinto, por estar em alta velocidade e a rua pouca iluminada, chocou-se violentamente com um monte de entulho que estava jogado em via pública e caiu com o rosto no calçamento, onde por não está usando capacete se machucou gravemente, chegando a ser socorrido no Hospital Maria Julia Maranhão, mas que nada adiantou, pois o mesmo já se encontrava sem vida. Faleceu então, aos 31 anos de idade, o jovem Alain Delon. 

A vida muitas vezes nos surpreende com acontecimentos, em 1998, estava eu (autor deste blog) sentado a frente de casa em uma noite, na rua Dr. Castro Pinto, quando me deparo  com um vulto escuro voando alto, como numa alucinação, que se transforma num pesadelo, ao ver o jovem até então desconhecido, caindo de moto em minha frente e em instantes seguintes chegando ao falecimento. Foi a unica vez que recordo tê-lo avistado na vida. 

No seu sepultamento no dia seguinte o clima era de profunda comoção entre a grande multidão que compareceu para prestar suas últimas homenagens ao guerreiro Alain Delon, ele que embora tenha partido de forma tão prematura deixou um verdadeiro legado cultural para nossa gente. 


Por: Wellington Rafael


17 comentários:

  1. Eis uma história de vida que nos mostra que Araruna teve seus "heróis"e que nem sempre os políticos são os sujeitos históricos principais!!!

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  2. Incrível como a gente conhece o nome, mas não sabe a história.
    Os heróis de Araruna são aqueles que menos enxergamos.

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  3. Fomos vizinhos, amigos e companheiros de trabalho. Participei da vida de Dellon bem cedo quando ainda era adolescente. Fui aluno de sua escola de teatro, fui conselheiro, o ajudei em algumas de seus projetos... muito inteligente, teimoso, bravo e sonhador... deixou saudades e nunca mais vi alguem que fosse capaz de se doar tanto por uma causa...

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  4. Ele não morreu, pois os homens; como o meu primo se Eternizam, te amarei sempre Delon.........

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  5. Eu sou de Guarabira. Me emocionei com o texto. O admirava muito. Onde estiver, saiba que sempre lembro de vc.

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  6. Conheci o Alain Delon pessoalmente, assistindo o espetáculo da Paixão de Cristo. Depois fiz parte de um teatro que ele fez sobre o Nascimento de Cristo lá em Lagoa da Mata.
    Também me recordo de uma vez em que ele foi conosco a Guaribas na casa de um casal amigo e passou o dia lá conosco.
    Era uma pessoa muito carismática, com facilidade de conquistar a simpatia por ser muito popular e atencioso, independente de quem fosse.
    Faz muita falta. Era uma pessoa que tinha muito a agregar na cultura do nosso povo, mas infelizmente foi vítima de uma fatalidade.
    Descanse em paz Alain Delon. Nossa Araruna te agradece por tudo o que você representou para o nosso povo.
    Parabéns Wellington Rafael pela excelente matéria.

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  7. Alain Delon,um nome expressivo da arte e da cultura paraibana,deixa um grande legado para a cidade de Araruna juntamente com a ativista cultural Julia Carmem que muito engrandece está cidade.Espero que a nova geração possa conhecer o legado de pessoas desse quilate quem muito engrandece Araruna.

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  8. Foi para mim um irmão verdadeiro. Dellon e eu nos encontramos pelas estradas da vida por várias vezes!
    Trabalhamos na rádio cidade esperanca, rádio rural e integração...
    Vivemos a política de 1992

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  9. Foi para mim um irmão verdadeiro. Dellon e eu nos encontramos pelas estradas da vida por várias vezes!
    Trabalhamos na rádio cidade esperanca, rádio rural e integração...
    Vivemos a política de 1992
    Me chamo Ary Silva

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  10. Muito emocionado de ter achado algo, a respeito desse grande ser humano, que tive a alegria de conhecer. Obrigado mesmo, Parabéns ao autor.

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  11. Parabéns pelo documentário. Também tive o prazer de conviver com Dellon, vivemos juntos boa parte dessa história.

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  12. Que história fascinante,fiquei impressionada com a trajetória de vida de Alain Delon. Parabéns pela matéria ficou incrível.

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  13. Parabéns amigo Wellington.

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  14. Hoje recordei do meu primo Dellon , exatamente pela data Semana Santa. Fui buscar no Google sobre a Paixão de Cristo e tive prazer de lê esse texto da vida de Allain . João Pessoa, 08 de Abril 2023.

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  15. Excelente texto! Cheguei até aqui devido a uma busca no Google por Maria Mousinho Pontes. Estou em busca de saber mais sobre a família "Mousinho Pontes". Se alguém puder me ajudar, eu agradeço!

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  16. Grande ser humano Alain Delon, conheci e convivi com ele na cidade de cacimba de Dentro. Moro em São Paulo a 30 anos e através desse documentário é que fiquei sabendo que ele não está mais entre nós. Muito triste 😭

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  17. Foi meu grande amigo, fiz muita encenações da Paixão de Cristo, fiz novela na Serrana " The Love fhebor" era mais ou menos assim o título, que do português seria " O Amor e o Poder." O meu último trabalho com Delon foi o filme " "A Saga do Padre Ibiapina " íamos pra Arara fazer as gravações, um grupo de Araruna, Cacimba de Dentro e Tacima.

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