sábado, 30 de julho de 2011

Por um Centro "Cultural"


Fachada do velho mercado de Araruna, 1934. Fonte: Fonseca, 1996.

A População de Araruna aguarda ansiosa a entrega de seu Centro Cultural, após reforma iniciada a cerca de 1 ano e meio, onde deverá ser entregue um prédio restaurado após anos e anos de desgaste físico. Está obra é primordial e épica para nossa cidade, diante da grandiosidade daquele logradouro público na história de Araruna.

O atual Centro Cultural está totalmente ligado a história de evolução urbana de Araruna, no que tange seu desenvolvimento e nós ararunenses devemos ser mais gratos, para com o mesmo, pois foi esta edificação que trouxe progresso a nossa cidade.  Primeiramente entendamos que o local antes foi designado para ser o Mercado Público da cidade e foi esta finalidade que ele exerceu por muitas décadas após sua construção.

Nos primeiros anos do século XX nasceu o primeiro Mercado Público de Araruna, idealizado pelos irmãos Pedro Targino da Costa (Major Pedro Targino) e Targino Pereira da Costa (Coronel Gino), só que, para que realmente este projeto saísse do papel, foi de crucial importância, a determinação do misto de advogado e engenheiro José Amâncio Ramalho, e por mais que pese a participação dos Targino na construção do Primeiro Mercado, foi pelas mãos de Amâncio que a construção aconteceu.

Dá direita para a esquerda: Major Pedro Targino, Coronel Gino e  Amâncio Ramalho.
 Fonte: Humberto Fonseca de Lucena.

Para Amâncio, Araruna tinha que sair do estado de inércia em que se encontrava, e buscar novo fôlego para crescer, e foi realmente isso que aconteceu, a paisagem urbana primitiva, saindo de seus arruados mal dispostos e foram aos poucos dando lugar a uma paisagem organizada com um alinhamento de ruas projetadas, além de sair do marasmo econômico em que se encontrava a então vila de Araruna.

A alegria para construção do Velho Mercado que iniciou em 1908, trouxe esperança para toda população ararunense assim como nos conta Humberto Fonseca de Lucena:

Conta-se, em Araruna, que todo o povo, em grande animação, carregou pedras para a construção do mercado. Esse entusiasmo contribuiu para abreviar os trabalhos, cuja duração ocupou todo o resto de 1908 e prolongou-se por quase todo o ano seguinte, quando a obra foi dada por concluída com a chegada dos portões de ferro procedentes da Europa. Restavam o reboco e a pintura. Na verdade, faltava pouco.  (LUCENA, 1996, p.67).

Não nos aprofundemos tanto nos mistérios da construção do prédio, o fato é que o mesmo foi desativado no ano de 1966 pelo prefeito Targino Pereira da Costa Neto (atual prefeito de Tacima - PB), que construiu um novo mercado público para cidade, o qual utilizamos até hoje. Pois bem, o “Velho Mercado” perdeu sua função e ficou sem funcionamento por longos anos e todo comércio em seu redor foi aos poucos migrando para junto do novo mercado, a administração municipal á época o usou como garagem por algumas ocasiões e pretendiam transformá-lo em sede da prefeitura de Araruna, mais não foi isso que aconteceu.

No ano de 2000, o “Velho Mercado” que tanto serviu a Araruna, foi restaurado, o que foi excelente para o mesmo, que estava em estado de degradação avançada e desempenharia uma nova função, ganhou o título de “Centro Cultural”, o qual o chamamos até os dias atuais, porém não me recordo do mesmo ter servidor realmente para tais finalidades,  era muito criança  e não lembro, mais com o passar dos anos sei e sei bem, que o nosso centro de cultura não possuía nada de cultural.

Antigo Mercado e atual Centro Cultural em 2009.

Atualmente este mesmo edifício está em uma nova reforma, que talvez pela demora da entrega seja muito criticada por muitas pessoas, que dizem que após seu novo fechamento deixou o centro de nossa cidade sem vida. Por mais que houvesse um fluxo de comércio recente em seus arredores e dentro do próprio centro que não era NADA cultural e por mais que pessoas ganhassem seus pães de cada dia naquelas pobres barraquinhas (retiradas no início da reforma), tenho convicção  e falo isso com propriedade pelo meu histórico familiar, NÃO VEJO nada de belo e de bom, naquele movimento, muito pelo contrário, tínhamos um centro morto de sabedoria e de cultura, possuíamos era um espaço para consumo de bebidas alcoólicas e outras mazelas, que JAMAIS serão motivos de orgulho para qualquer cidade do mundo.

A administração da prefeita Wilma Targino Maranhão tem em suas mãos a oportunidade de entregar a nossa querida Araruna, não mais um elefante branco, bonito, restaurado e sem vida, como foi feito antes em 2000, mais pelo contrário entregar um prédio que de verdade efetive coisas positivas ao nosso centro histórico, trazendo aos jovens e aos mais antigos a cultura de fato, pois esta foi à intenção maior da gestão municipal com o inicio da reforma: trazer uma serventia mais nobre aquele prédio.

Vale ressaltar que esta reforma está demorando muito mais tempo do que a construção do próprio prédio que foi de 1908  a 1909, e com o agravante do município ter muito menos recursos aquela época, fora que após restaurado e inaugurado deve apresentar ao público ararunense um belo acervo cultural, onde se deve envolver práticas voltadas ao artesanato, arte e cultura, se tornar um museu ou teatro, pois vocação para tudo isso o velho mercado possui, além de outras atividades que deveriam ser inseridas num calendário de eventos anual e regional fixo, no qual após incentivos na área de turismo trariam para Araruna um real e efetivo fluxo de movimento de pessoas e uma dinâmica de fato positiva para nossa cidade. 

Torçamos que assim seja feito e caso não aconteça que saibamos cobrar, pois de nada adiantará se restaurar o Centro Cultural se nele não forem instalados em seus diversos repartimentos funções que realmente sejam produtivas. Mais uma vez reforço, NÃO TENHO SAUDADES daqueles tempos do centro movimentado com um falso desenvolvimento, acredito que de fato nenhum dos barraqueiros se pudesse escolher estaria vivendo daquela maneira. É através de investimentos em educação e cultura que as pessoas poderão crescer e melhorar sua qualidade de vida, sem estarem presos a formas sofridas de sobrevivência como encontrado antes a frente do centro cultural.

 Aguardamos que o Centro Cultural esteja pronto em breve para ser entregue a população e que seja usado enfim como um centro de cultura. Não terminemos novamente repetindo os versos do velho Borges que ao ver o abandono do velho mercado dizia:  

“Oh Araruna ingrata
Que mal ele fez a tu ?
Num dia desse de festa
Até as casa se veste
Só o Mercado Véio anda nu!”

WELLINGTON RAFAEL

quinta-feira, 7 de julho de 2011

ARARUNA - 135 anos de lutas e vitórias


No próximo domingo dia 10 de julho,  Araruna completará 135 anos de sua emancipação política, data esta que deve ser festejada e celebrada com muita alegria por seus munícipes, afinal de contas, se comemora mais um ano, que se junta ao somatório de páginas que formam a rica história deste município, que é sem sombra de dúvidas dos mais importantes do Agreste Paraibano, e de onde se pode ter orgulho de viver, morar e conhecer, para poder então refletir a cerca de seu passado e caminhar em passos firmes, para um bom futuro.

Velho Mercado e Praça João Pessoa. 1940. Fonte: LUCENA, 1996 


Parte desta rica história é conhecida, através das pesquisas e dos resultados decorrentes de fatos marcantes em nossa história, já outras são esquecidas ou deixadas de lado, talvez por maldade, talvez pelo próprio desconhecimento de uma identidade apagada. Deve ser ressaltada que mesmo antes da emancipação do município, Araruna já existia, pois a famosa Serra de Araruna como lugar geográfico despertava esta sensação de pertencimento e de territorialidade.

 Partindo deste principio de territorialidade, deve-se começar falando dos nossos primeiros habitantes que foram os índios, onde se supões serem os índios Janduís e os Caracarás, que ocupavam trechos entre os rios Curimatáu e Trairi, de onde durante suas passagens deixaram muitos vestígios, dentre eles destacam-se as inscrições rupestres encontradas na Pedra do Letreiro, no Parque estadual da Pedra da Boca, neste município. A própria denominação do município “Araruna” advém do idioma indígena (tupi) “A’rara una”, significando “Arara Negra”, decorrente do fato de existirem naquela época, muitas dessas araras (Anadorhynchus hyacinthinus) (Lath.), que embora do significado do nome, distinguem-se pela plumagem azul escuro, que vistas à distância pareciam negras.



 A A''rara una (Anadorhynchus hyacinthinus) que denomina Araruna e nosso brasão
 municipal de onde se observa a homenagem do município a ave.


 A fundação do povoado de Araruna se deu por meados de 1845, sendo atribuída ao Sr. Feliciano Soares do Nascimento, morador em Jacú dos Órfãos, Rio Grande do Norte, que recebeu duas léguas de terra no alto da serra de Araruna, fazendo ali sua moradia e uma roça. Ele estava cumprindo uma promessa feita a Nossa Senhora da Conceição, construindo uma capela (Igrejinha de Santo Antonio), em torno da qual surgem as primeiras casas. Porém deve se levar em conta que o Sr Feliciano, não construiu a capela sozinho, nem tão pouco foi o único morador desta época, se esquece, que o mesmo contou certamente com ajuda de possíveis vaqueiros e trabalhadores rurais em geral, que foram muito corajosos de migrarem de suas antigas habitações para se instalar nesta localidade, e assim ajudarem a formar as raízes da população ararunense.

Durante este período esta população que em Araruna se encontrava, era quase que totalmente desassistida de serviços essenciais como educação e saúde, decorrente do fato do próprio isolamento da serra de altitude elevada e de não existirem estradas aquela época e da própria distancia da então vila á sede do município de Bananeiras-PB, da qual pertencia, atendendo a reivindicações e apelos de décadas, Flávio Clementino da Silva Freire, Vice-Presidente da Província da Parahyba do Norte, aos 4 de julho de 1854, cria com a lei nº 25 a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Serra de Araruna, passo importante para sua emancipação posterior que viria aos 10de julho de 1876 sancionada pelo Presidente da Província da Parahyba do Norte o senhor Barão de Mamanguape através da  Lei nº 616.

Á partir daí o município de Araruna conseguiu se firmar e trilhar diversas conquistas em sua história, através de vários eventos que a tornaram cada vez mais forte e reconhecida na microrregião do Curimataú e redondezas potiguares, fortalecendo sua economia como um todo, pois se tinha um espaço mais adequado que suportasse a demanda do nosso comercio, onde Araruna se destacava como maior produtora de feijão do estado da Paraíba. Araruna possuía enfim um aspecto urbano que se desenhava e se consolidava cada vez mais, e se firmou principalmente em 1908 com a construção de seu primeiro Mercado Público (atual Centro Cultural) desativado em 1967, com a construção de um Novo Mercado. Durante o século XX é interessante se destacar desmembramentos de distritos provenientes de Araruna, dois em 1959: Cacimba de Dentro e Tacima; e Riachão  em 1994.

Mais recentemente pode-se considerar como novo evento desenvolvimentista e transformador da paisagem urbana de nosso município a construção e instalação do campus VIII da Universidade Estadual da Paraíba no ano de 2010, onde mais que uma construção de pedra e melhoria de renda e fortalecimento da economia da cidade, pode se considerar o maior presente a nosso município e região onde muitas vezes o pequeno agricultor, uma dona de casa, uma artesã, ou pessoas inseridas em classes sociais menos privilegiadas, não dispunham de condições necessárias para estudarem ou inserir seus filhos no mundo acadêmico, acabando sempre na maioria das vezes a margem dos benefícios que o conhecimento adquirido em grau superior possa acarretar, a mudança da mentalidade deste povo é com certeza o maior presente que a UEPB dará a Araruna.

Neblina na Avenida Epitácio Pessoa em Araruna, durante o mês de junho de 2010.
Fonte: autor desconhecido
Araruna é certamente um dos municípios mais conhecidos no estado da Paraíba, seja pela fama de seu clima frio e ameno, que se distingui do quadro geral desta região se tornando uma ilha de clima ameno em pleno semi-árido, pois está inserida numa altitude de cerca de 590 metros acima do nível do mar, seja pelas suas belas paisagens geográficas, tais como as belas serras da Araruna e da Confusão, e do Parque estadual da Pedra da Boca, por nossos tradicionais eventos como o consagrado São João na Serra, Festival de Inverno e Festa da padroeira de Nossa Senhora da Conceição.

São João na Serra, junho de 2011. Fonte: http//:ararunapb.com.br
Pedra da Boca, Araruna-PB. Fonte: PBTUR

Araruna se destaca também através de seus filhos ilustres, que sobressaíram em cenário estadual e alguns até nacional, como os poetas Antonio Joaquim Pereira da Siva (membro da Academia Brasileira de Letras) e Peryllo D’Oliveira (membro da Academia Paraibana de Letras), José Targino (ex-secretário de Agricultura e ex-governador da Paraíba em 1950), José Targino Maranhão (ex-senador e governador do estado da Paraíba por três mandatos), Almir Carneiro da Fonseca (desembargador), Rogério Fialho Moreira (desembargador), Humberto Fonseca de Lucena (bioquímico e pesquisador), Olenka Targino Maranhão (deputada estadual), Benjamin Gomes Maranhão Neto (deputado federal) e nossa atual prefeita a Srª Wilma Targino Maranhão (ex-presidente do CENDAC-PB e prefeita por três mandatos deste município).

Porém, Araruna ao longo de seus 135 anos de história pode ter certeza do bom sentimento de seus habitantes, sobretudo a população mais carente, que sempre de forma brava e às vezes inconsciente, ajudando ao longo destes mais de 135 anos, de luta e  garra, e que mesmo oprimida diante de sistemas socialmente injustos e impostos sempre acreditaram em sua capacidade e sempre caminharam com passos de esperança, mesmo expostos as crueldades e ganâncias dos nossos coronéis de outrora, tornando nosso município mais rico e mais bonito a cada dia, do qual foi descrito modestamente neste nosso trabalho, diante da tamanha riqueza de conteúdos do universo Araruna.  

Enfim minhas felicitações, a esta cidade que é a princesa do Curimataú paraibano, através de versos simples de um ararunense já finado, mais que nos fala com amor e orgulho de ser de Araruna.

"Você canta sua terra,
Também vou cantar a minha,
Que fica no topo da serra,
E tem porte de Rainha!”. (velho Borges)

PARABÉNS ARARUNA PELOS SEUS 135 ANOS DE HISTÓRIA DE LUTAS E VITÓRIAS!


Referências:

LUCENA, Humberto Fonsêca de. O Velho Mercado de Araruna e seus Arredores. João Pessoa, Empório dos livros. 1996.
Silva, Wellington Rafael da. Desenvolvimento urbano e regional da/na Cidade de Araruna-PB – Guarabira: UEPB, 2010.

WELLINGTON RAFAEL