domingo, 30 de março de 2014

A Fazenda Maquiné - Patrimônio histórico e cultural de Araruna

Aspecto da Fazenda Maquiné, com o Casarão e Capela. Foto: Wellington Rafael da Silva, 2014.
Distante a poucos quilômetros (2), da sede da cidade de Araruna, encontramos um lugar bucólico, de paisagens naturais bonitas e uma riqueza cultural surpreendente, nos referimos a Fazenda Maquiné, um verdadeiro tesouro de riqueza histórica do município. A Fazenda Maquiné se encontra onde havia antes um engenho de mesmo nome "Engenho Maquiné", de propriedade do famoso Targino Pereira da Costa, patriarca da Família Targino, falecido em 30 de agosto de 1887, membro da primeira Câmara de Vereadores.

O Maquiné representa um belo conjunto histórico arquitetônico constituído pela casa-grande capela, armazém,senzala e casa dos moradores, sendo esta capela a edificação mais antiga da fazenda, herdada por Dona Jesuína Paula d'Assunpção, cabendo ao seu filho Francisco Targino da Costa, que se ordenara padre o gesto da construção da capela em 1897, que tem como santos padroeiros Nossa Senhora do Bom Socorro e São Francisco de Assis. Cabe-se ressaltar que este padre, popularmente conhecido por Padre Targino, foi vigário da Paróquia de Araruna entre 1906 e 1919. 

Casarão da fazenda Maquiné
Sobre este fato trazemos reprodução feita por Humberto Fonseca de Lucena, em seu livro "A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Serra de Araruna" em 2000, anotações feitas pelo próprio Padre Targino em punhos de eminente valor histórico:  

Aos onze de Março de 1897, às 10 horas da manhã, de licença do Exmo Sr. Bispo Diocesano, fiz a bênção da 1ª pedra da Capela de N. Senhora do Bom Socorro e de S. Francisco d'Assis, neste Engenho do Maquiné, perante as testemunhas as Exmas Senhoras Donas Jesuína Paula d'Assumpção, Maria Amavel Targino Baracuhy, Guilhermina Targino, Benecdita Targino, Rosa Targino, Ignacia Targino, Paulina Targino, Joana Elvira Targino, Anna Angelina Targino, Anna Lyluiosa; os protetores perpétuos = Padre Francisco Targino Pereira da Costa, Targino Pereira da Costa e Pedro Targino Pereira da Costa; os paraninfos - Coronel Francisco Duarte dos Santos, Targino Pereira Neto, Joaquim da Silva Barboza Junior, Manoel Belmont, João Theodosio, Henrique Pereira da Costa, Pedro Moreira d'Alcântara, Augusto Belmont, José Pereira da Costa, Anolino Pereira da Costa, Luiz Pereira da Costa, João Pereira de Sá Serrão, João Baptista d'Andrade, João Gomes do Nascimento Lyra, João Horácio Fernandes Bezerra, Ildelfonso José Fernandes, Pedro Assendino da Costa Teixeira, João Gomes d'Oliveira Francisco Garcia da Silva e Felizberto.

Do que faço este termo.
Maquiné, 11 de março de 1897
Pe. Francisco Targino Pereira da Costa

Padre Francisco Targino Pereira da Costa, vigário da Paróquia de Araruna entre 1906 e 1919.
Fotografia do século XIX. Fonte: Humberto Fonseca de Lucena.
Capela da Fazenda Maquiné, dedicada a N. Senhora do Bom Socorro e a São Francisco de Assis.
Foto: Wellington Rafael da Silva, 2014.
Frontão triangular da capela dedicada a Nossa Senhora do Bom Socorro e São Francisco de Assis.
Foto: Wellington Rafael, 2014.
Interior da capela com destaque para o altar, 2014. Foto: Acervo pessoal de Wellington Rafael
Ainda que em mal estado de conservação, a capela da fazenda ainda é a mais bela das capelinhas do município, seja por seu charme, pelas suas características ecléticas, refletindo no seu estilo barroco rural tardio, como nos seus arcos ogivais de neogótico, além de um frontão triangular. O casarão da fazenda encontra-se com a fachada em estado razoável de conservação, seguindo imponente como vigoroso testemunho dos séculos, aos que visitam o local, o mesmo não pode-se dizer de seu interior, onde algumas paredes apresentam sérias rachaduras, estando o seu sótão caído parcialmente há alguns anos, encontramos o interior do casarão em estado deplorável, digno de dó, sofrendo muitas vezes invasões de pessoas má intencionadas que realizam vez ou outra algum ato de vandalismo no local, diante de tantos imbróglios a resistência do casarão é surpreendente.

Infelizmente a antiga Fazenda Maquiné carece de um plano de políticas públicas, voltadas à preservação do patrimônio histórico, visando tombamento e restauração das edificações, que serviriam de ação para a implantação e efetivação de mais uma ramificação e atração turística para o município, onde o turismo histórico, rural, religioso e cultural se enquadrariam perfeitamente em seus espaços, trazendo nova utilidade para o esquecido Maquiné, ao invés disso, temos como visitantes apenas os marimbondos e morcegos que infestam o local.

Visão frontal do alto da fachada do casarão da Fazenda Maquiné. Foto: Wellington Rafael da Silva, 2014.
Fachada frontal do casarão trazendo a sua data de sua fundação "1897". Foto: Wellington Rafael, 2014.
Lateral direita do casarão da fazenda. Foto: Wellington Rafael, 2014.
Lateral esquerda do casarão da fazenda. Foto: Wellington Rafael, 2014.

O antigo Maquiné era o local das reuniões dos famosos "barões de Araruna", que eram a classe mais abastada da cidade, a chamada "nata" da sociedade ararunense á época. Contam os mais antigos que na fazenda existia escravidão, embora não se possa mais encontrar no interior da casa-grande instrumentos de tortura removidos pelos herdeiros descendentes que se desfizeram deles no decorrer do tempo.

Por conta do abandono e por não haver a várias décadas pessoas habitando no casarão, criaram-se diversas histórias de assombrações que circundam o local, onde se falam que existiria por perto nos arredores da fazenda um antigo cemitério, e que as almas dos mortos assombram a fazenda.  Ronaldo Targino Moreira, familiar dos proprietários, nos conta sobre uma história de que todos os primogênitos nascidos no casarão tendiam a morrerem na infância, e que este fato se repetiu por diversas vezes, seja por coincidência ou maldição e isto causou o afastamento dos moradores do lugar.

Porta de entrada do casarão a sua direita, destacando outros cômodos.
Foto: Wellington Rafael. 2014.
Interior do casarão. Foto: Wellington Rafael, 2014.
Janelas frontais em estado avançado de deterioramento, vista no interior do casarão.
Foto: Wellington Rafael da Silva, 2014.
Aspecto deteriorado da parte superior do casarão, onde desabou parcialmente o sótão.
Foto: Wellington Rafael, 2014.
Escadaria que dá acesso ao sótão. Foto: Wellington Rafael da Silva, 2014.
Aspeto interno do interior do casarão. Foto: Wellington Rafael da Silva, 2014.
Antigo local utilizado para descaroçamento de algodão. Foto: Wellington Rafael, 2014.

Antigo banheiro em cima de um lajeiro, 2013. Foto: Wellington Rafael da Silva, 2014.
Atualmente a fazenda está em nome de propriedade pertencente ao Sr. Durval Falcão, esposo da Srª Maud Targino Falcão, bisneta do patriarca do clã  Targino Pereira da Costa, e irmã da Srª Maura Targino Moreira, ex-prefeita do município, e que por pertencer a propriedade particular encontravam resistência quanto a tombamento e reforma das edificações, e nem apresentam interesse próprio em sua preservação a deixando relegada ao relento. Embora, recentemente a família demonstrou interesse em realizar um comodato visando restauração da capela da fazenda, juntamente com a Paróquia de Araruna, através do Pe. João Firmo, já para as festividades dos 160 anos da paróquia este ano.

Fazenda Maquiné e toda sua beleza destacada em fotografia de Arthur Ribeiro em 2009.
Torçamos que este empreendimento de restauro da capela dê certo, e que possivelmente sirva de estimulo para o tombamento e restauro total também do casarão, pois a situação em que ele se encontra com paredes rachadas, sótão em pleno estágio de desabamento total, possa talvez não aguentar as possíveis fortes chuvas dos próximos anos, que sejam tomadas medidas que salvem este patrimônio de grande importância no município. 

Wellington Rafael

Referência: 
LUCENA, H.F. A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Serra de Araruna, 2000. João Pessoa - PB. A União, 189 páginas.





10 comentários:

  1. Conheci a Fazenda Maquiné em 1985, já em estado de abandono e entregue a marimbondos e morcegos. Sempre achei o conjunto arquitetônico elegante, com suas formas ecléticas de primoroso aspecto construtivo e bom gosto dos detalhes, apesar de ser destacado a elegância das construções, essas mesmas são frágeis, mal estabilizadas. Construidas com tijolos de adobe, alguns cozidos e outros crus, bem característicos desde os tempos coloniais, esse conjunto arquitetônico caracteriza bem a fase ruralista em ascensão a época, onde seu emblema no frontispicio da casa sede já demonstra o poder que queriam alardear nas mentes daquela época (estrela de 5 pontas e ramos de café e/ou algodão) seguramente esse poder não era absoluto, era o q chamo de poder interiorano ruralista local, sem forte expressão no cenário estadual, igual a outras emblemáticas famílias de Araruna. Olhando as fotos postadas acima, gosto sempre de analisar o modo construtivo a época de 1887, saindo a norma da taipa de mão ou de pilão, esse conjunto já é de construção mais nobre, apresentando uma cobertura bem estruturada com terças e ripas bem colocadas, além de telhas tipo portuguesa, as chamadas "telhas feita nas coxas" pelo modo simples de serem feitas, irregulares e grossas, comum também na cidade de Araruna e região do inicio dos anos de 1800 a 1950. Gosto de analisar com mais detalhe a Capela, muito comum em fazendas do interior do Brasil, para o oficio divino ser mais familiar, talvez mais seguro e menos aberto ao publico, demonstrando um afastamento de classes, um certo sentido de divisão (pobres e ricos em esferas diferentes) mesmo com os deuses em comum, santos iguais a adoração de ambos. O aspecto mais claro de se analisar nesta Capela é seu primoroso estilo de construção com as linhas triangulares e um barroco surpreendente ao alto abaixo da cruz, aparece um triângulo, comum na mente dos construtores naquela época, ainda evocando o espírito latente do judaísmo interno, abafado por perseguições e amplamente difundido no estilo construtivo de igrejas cristãs, lembrando ate a maçonaria, com o "Olho que tudo vê" ou mesmo, na mente cristã do "Olho da Providencia" que representa a Trindade, saindo dos exemplos creio ser seguro afirmar que no conjunto arquitetônico da Fazenda Maquiné o que mais fascina é a Capela e seus traços construtivos de uma beleza surpreendente. Parabéns Wellington Rafael...

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  2. É UMA PENA A FALTA DE SENSIBILIDADE POLITICA.:SÓ CONHEÇO 5 FILHOS ILUSTRES DE ARARUNA QUE SE PREOCUPAVAM COM A VIDA CULTURAL DE ARARUNA:HUMBERTO LUCENA,ADALBERTO TARGINO,PEDRO TARGINO TEIXEIRA E UBIRAJARA TARGINO BÔTTO

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  3. Os políticos só pensam em lucro.Cultura não rende dinheiro.De toda a Região do Brejo a Fazenda Maquiné é o sitio histórico mais importante(a orígem familiar de 90% dos filhos ilustres de Araruna de renome nacional como Senador José Targino Maranhão,Governador José Targino Pereira da Costa,Deputado Federal Benjamim Targino Maranhão,Deputada Olenka Targino Maranhão,Escritor e poeta José Adalberto Targino de Araújo,Desembargador Federal Rogério Fialho Moreira,Desembargador Estadual Almir Carneiro da Fonseca,jurista Ubirajara Targino Bôtto e poeta e jornaliata Pedro Targino Teixeira) Todos sobrinhos ou netos ou bisnetos do Coronel Targino Pereira da Costa,Major Pedro Targino Pereira da Costa,Padre Francisco Targino Pereira da Costa e do Capitão. Henrique Targino Pereira da costa. è uma pena a insensibilidade cultural e genealógica desses filhos da terra.!!!!!!!!!

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  4. Olá! Meu nome é Monyque Targino, e moro em João Pessoa/PB. Minha família é originária de Araruna, e minha avó conta relatos da família. Gostaria de saber se você tem mais fotos de construções/retratos e poderia me mandar? Desde já, agradeço.

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  5. Amigo vc. quase me mata do coração quando eu ví as fotos da fazenda maquiné, me trouxe fortes recordações estou chorando até hoje,mas valeu cara obrigado.

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  6. Muito linda tive a oportunidade de visitá-la a alguns anos atrás, mais não sabia que existia um cemitério,isso procede?

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  7. Gostaria muito de conhecer essa fazenda. Sou apaixonado por fazendas antigas. Moro em Natal/RN. Como chego até ela? lauronatal@yahoo.com.br

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  8. INFELIZMENTE POR MOTIVOS POLÍTICOS ESTA ABANDONADO, POIS OS GESTORES NÃO SE IMPORTAM COM O PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE ARARUNA.. SOU DE ARARUNA MAIS ME SITO ENVERGONHADO POR MINHA CIDADE.. SOU ESTUDANTE DE ADMINISTRAÇÃO, MAS INFELIZMENTE POR MOTIVOS POLÍTICOS VAI SE ACABAR EM POEIRA E ENTREGUE AS BARATAS..

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  9. Minha bisavô, Rosita Targino Barachuy,conhecida como dona Cindá ,residiu nessa fazenda...guardo comigo muitas histórias contadas por ela sobre o Maquiné.

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