domingo, 20 de outubro de 2024

Memórias de Araruna: Recordando Wilma Targino Maranhão

Wilma Targino Maranhão
 
Aos 23 de outubro de 1942 nascia em Araruna, Wilma Targino Maranhão. Uma mulher que viria de uma família tradicional na política e que se tornaria a pessoa que por mais tempo governaria o município na história. 

Filha de Benjamim Gomes Maranhão, Seu Beja (in memorian) e de Benedita Targino Maranhão, Dona Yayá, (in memorian). Teve como irmãos José Targino Maranhão (in memorian), Carmésia Targino Maranhão, Benjamin Targino Maranhão, Everaldo (in memorian) e Irís Targino Maranhão. Logo cedo, Wilma faria seus estudos em um convento em Monteiro/PB, juntamente das irmãs, Carmésia e Iris

Em 1962, casaria com o advogado Newton Pedrosa, de cujo enlace teria três filhos: Helder Targino Maranhão Pedrosa (in memorian), Olenka Targino Maranhão `Pedrosa e Benjamin Gomes Maranhão Neto.  

Não demoraria para iniciar sua relação com a política local. Aos 13 anos já tinha o seu pai, Beja Maranhão como prefeito de Araruna, eleito em 1955, cargo que o tio José Gomes Maranhão já havia ocupado entre 1948 e 1951). Além de ter tido seu irmão mais velho, José, alcançado o cargo de deputado estadual no pleito de 1954, com tantas influências familiares, sem contar os políticos do ramo Targino, não tardaria a ser postulante de cargos públicos.  

A criança Wilma, a primeira à esquerda, ao lado dos irmãos Carmésia, José e a caçula, Iris.

Politicamente, após derrotas eleitorais do pai, Benjamim perante Targino Pereira em 1963, de Dr. Rivadávia Guedes, com Everaldo Maranhão de vice, para Agenor Targino em 1968, de Luis Torres em 1972 para Mentor Carneiro da Fonseca, e a cassação do mandato do Deputado Estadual José Maranhão em 1969 pela ditadura militar, Wilma se tornaria opção para concorrer à prefeitura em 1976.

Casamento de Wilma Targino Maranhão e Newton Pedrosa em 1962. 

Casamento de Wilma Targino Maranhão e Newton Pedrosa, ladeados por seus pais.
No lado da noiva: Benjamim Gomes Maranhão e Benedita Targino Maranhão. Foto de 1962.  

Newton Pedrosa, Wilma Maranhão e a filha, Olenka. No interior da Igreja
Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Araruna. Década de 1970.

Wilma Maranhão durante carnaval no Clube 31 de Janeiro.
Década de 1970. Fonte: Acervo de Wilma Maranhão.

Alguns correligionários começaram a simpatizar com a ideia da indicação da filha de Seu Beja para a prefeitura e já declaravam abertamente a simpatia por esta indicação. Um dos primeiros a indicá-la foi o senhor Chico Cardoso, do sítio Guaribas, que, em um determinado momento, acompanhado de outras pessoas, disse: “Vou apresentar o candidato: Wilma Maranhão!”. (SILVA. W.R. p. 25)


Candidata escolhida pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Wilma Maranhão, até então, com 33 anos, se juntaria a Maria Celeste Torres da Silva, viúva, comerciante, para fechar uma chapa de mulheres que disputaria contra o grupo político da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), do Prefeito Mentor Carneiro, que se dividiu em dois grupos: o candidato Agenor Targino, vice José Adalberto Targino pela ARENA 1, e Antõnio Martins de Sousa, vice José Torres da Silva, pela ARENA 2. 

Wilma Targino Maranhão. Década de 1970. Fonte: Geraldo Neto. 

Foto oficial da Campanha de Wilma Maranhão em 1976.
Fonte: Acervo de Dona Eremita Lima. 

Em sua campanha utilizaria a cor azul de seu partido político, o MDB, e o slogan "Wilma Maranhão - RENOVAÇÃO". A candidata Wilma, em entrevista ao Jornal O Norte de 10/11/1976, sobre sua candidatura ao cargo de prefeita respondeu: 

"Já na eleição municipal anterior meu nome havia sido lançado. Não aceitei, porque naquela época não me achava preparada. Cheguei a participar da campanha do senador Ruy Carneiro e atuava politicamente no município. Passada a campanha senatorial e, logo após a apuração, o povo daqui me lançou a prefeita. Outra vez recusei, porque representaria um sacrifício muito grande aos meus estudos de Direito. Mas os apelos continuaram e não se tratava de um bloco isolado. Verifiquei então que os apelos não partiam apenas dos quadros emedebistas. Grupos da própria Arena queriam a minha candidatura e aí aceitei pois achei que Araruna precisava da minha colaboração. Pretendo se eleita, claro, promover, antes de tudo a harmonia na cidade, pois o clima político aqui ainda tem muito de cidade de interior, com divisões de blocos que prejudicam o próprio desenvolvimento municipal." (SILVA, W.R. p. 31 e 32).  

O resultado das eleições trouxeram uma história vitória de Wilma Maranhão e Celeste Torres contra os adversários, uma "Surra de Saia" como falado à época. Foram 3.035 votos (51,40%), contra 1.875 (31,75%) de Agenor Targino e  995 votos (18,85%) de Antônio Martins. Iniciaria assim a saga de Wilma Targino Maranhão à frente da Prefeitura de Araruna. 

Prefeita eleita, Wilma Targino Maranhão. Vice-prefeita eleita Maria Celeste Torres da Silva. Newton Pedrosa e Benjamim Gomes Maranhão, durante posse no dia 31 de janeiro de 1977. Fonte: Acervo de Wilma T. Maranhão. 

Não imaginaria, Wilma, que tornar-se-ia Prefeita de Araruna aos 33 anos, e somente aos 73, em 2016, romperia o seu ciclo no comando da política municipal. Dona Wilma apoiaria os êxitos eleitorais de Celeste Torres em 1982, retornaria a governar ela própria  Araruna em 1988, Dr. Nivaldo Isidro em 1992, o filho Benjamin Maranhão em 1996 e em 2000, Availdo Azevedo em 2004 e novamente Wilma, em 2008 e 2012. 

Durante seus primeiros mandatos, Dona Wilma receberia de parte da população e de seus correligionários a alcunha de "Mae da Pobreza", e por assim ficou sendo chamada por toda a vida. Devido muitas ações administrativas voltadas ao combate a amenização das camadas mais pobres da população. 

Dona de uma personalidade forte e combativa, Wilma Maranhão era praticamente uma entidade política, sua presença causava sensações como admiração e temor. Comparada por muitas vezes como uma coronel de saia, foi uma líder política que mostrava nas ações o "Aqui eu quero, posso e mando!". Seu jeito forte contrastava e era burilado com o perfil do irmão, José Maranhão, de tom apaziguador. 

Novamente candidata em 1988, com o clamor partidário  de "Wilma voltou!" disputou contra a nova liderança opositora Raaul Câmara, do PFL. Seu vice foi Manuel Martins Teixeira, (Manoel Paulino) Após uma acirrada disputa, a candidata do PMDB venceria com 3.426 votos (52,51%) contra 2.962 de Raul.  Neste pleito Wilma utilizaria versão da Música "E lá vou eu" da Banda Mel, que praticamente se tornaria um hino pessoal até os anos posteriores. Na versão desta campanha a letra seria a seguinte: 

      Força e vontade!

É Wilma com sua honestidade,

 conquistando o povão desta cidade!

Nela votarei!

      Prepare o coração,

pra receber na prefeitura esta emoção!

 Wilma vai ganhar esta eleição!

Nela votarei!

      Refrão: Wilma já ganhou,

Araruna vai vibrar!

 Wilma já ganhou, nela votarei!

      É claro eu não sou idiota,

 de deixar de votar em quem mais gosta!

 É Wilma, eu torno a repetir!

Nela votarei!

      Ainda há quem diga,

 que tudo isto é uma grande mentira!

Só se for, de outro partido! Nela votarei! 




Foto oficial da Campanha de Wilma Maranhão em 1988.

Lurdes Menezes e a Prefeita Wilma Maranhão, em seu gabinete. Década de 1980.

Missa da Posse da Prefeita eleita Maria Celeste Torres, entre outros: Wilma Maranhão,
Lurdinha e Paulo Odon. Fonte Ana Maria Queiroga.   


Propaganda eleitoral de 1988. Wilma Maranhão e Manuel M. Teixeira.
Fonte: Acervo da família Martins Teixeira. 

Wilma Maranhão durante casamento da Juíza Fátima Bezerra com José Maranhão, acompanhados de Dona Yaya. Fonte: Acervo da Família Maranhão. Década de 1980. 


Prefeita Wilma Maranhão e Senador Humberto Lucena, durante inauguração da
nova sede da Prefeitura de Araruna em 1989. 
Wilma Maranhão, Primeira-dama Glauce Burity e Prefeita Maria Celeste Torres.
Registro da década de 1980. Fonte: Ana Maria Queiroga. 

Wilma Maranhão durante cerimonia de posse do Governador Reeleito, José Maranhão, em 1º de Janeiro de 1999. Foto: Josélio Carneiro. 

Em 2008, foi candidata a prefeita de Araruna mais uma vez, sucedendo o aliado Availdo Azevedo, o vereador Luís Azevedo do nascimento, Lulinha, foi seu vice. Agora disputando contra o opositor Vital Costa, que já captava as forças contrárias ao seu comando desde o ano 2000. Nesta eleição, Wilma receberia 5.417 votos (53,75%) contra 4.631 (45,95%) de Vital, elegendo-se pela terceira vez como prefeita de Araruna.

Em 2012, tendo Iran Pontes como seu vice, e após o natural desgaste político de seu comando em décadas, seria reeleita, mais uma vez contra 4 homens, assim como em 1976, mas desta vez recebendo menos votos que os adversários somados. Wilma obteve 4.453 votos (44,50%), contra 3.479 (34,77%) de Vital Costa e 2.074 (20,73%) de Availdo Azevedo. 

Propaganda Eleitoral da candidata Wilma Maranhão em 2008.


Evento de campanha de Wilma Maranhão em 2008, ao lado do prefeito Availdo Azevedo e do senador José Maranhão. 

Posse da Prefeita Wilma Targino Maranhão, em 1ª de Janeiro de 2009. 


Convenção do PMDB para as eleições 2012. Na foto: Iran Pontes do Nascimento, Wilma Maranhão e José Maranhão. 

Apoiaria a vitória da filha Olenka eleita Prefeita de Cacimba de Dentro em 1992, o retorno do irmão José Maranhão para a política como Deputado federal em 1982, 1986 e 1990. Vice-governador em 1994. Governador em 1998, onde foi neste período, Dona Wilma a primeira-dama do Estado. Além de outros mandatos do irmão e de seus filhos como senador e deputados.  

Possuindo 4 mandatos de prefeita, seria Wilma Targino Maranhão, a pessoa que por mais tempo estaria comandando os destinos do municípios, ultrapassando o antepassado Major Pedro Targino da Costa que dirigiu o município por 12 anos, contra 18 anos de comando direto de Wilma. Politicamente, como Chefe de partido, e influencia direta nas administrações municipais entre 1977 e 2016, foram 40 anos de comando da filha de Beja em Araruna.   

Entre outras funções extra partidários. Wilma também foi oficiala do registro Civil de Araruna a partir da década de 1960, Presidente do Hospital e Maternidade Maria Júlia Maranhão em diversas ocasiões, Presidente do Centro de Apoio à Criança e ao Adolescente (CENDAC/PB), Coordenadora do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL/PB).

Prefeita Wilma Maranhão durante inauguração da Sede do Samu Araruna. 

Após a derrota eleitoral de seu partido, o PMDB, em 2016, com a vitória de Vital Costa, com ampla margem de votos, a ex-prefeita Dona Wilma se recolheria a seus afazeres pessoais, com poucas aparições publicas, e nenhuma manifestação política a respeito do mandato de seu sucessor. Sentiria fortemente a perda de seu irmão José Maranhão, falecido em 2021, o que entre outras comorbidades de saúde e idade avançada abalariam sua qualidade de vida. 

 Após longo período de tratamento de saúde, sucumbiria a ultima escala da vida, aos 20 de outubro de 2024, aos 81 anos,  3 dias antes de completar mais um natalício.  

Nos mandatos de Wilma Maranhão como prefeita algumas ações ficam como legado, suas principais ações foram:

  • Construção do Centro Administrativo Benjamim Gomes Maranhão;
  • Criação da Bandeira e do primeiro brasão municipal de Araruna;
  • Construção da Escola João Moreira Soares;
  • Construção da Escola Dr. José Targino Maranhão (Atual Rita Nunes);
  • Construção do Ginásio "O Maranhão", atual "O Marcão";
  • Eletrificação em mais de 90% das comunidades rurais de Araruna;
  • Criação do Programa do Sopão Comunitário;
  • Pavimentação asfaltica das Avenidas: Coronel Pedro Targino, Epitácio Pessoa, Coronel Antônio Pessoa, Rua Padre Bandeira, Rua Pe. Targino Sobrinho, entre outras;
  • Criação do Festival de Inverno, Cultura e Artes, Micaruna;
  • Construção da Industria do Conhecimento (Biblioteca);
  • Construção da Estação de Tratamento de Esgotos;
  • Quadra de Esportes da Comunidade Macapá;
  • Criação do Museu Histórico Municipal;
  • Construção de Conjuntos habitacionais: Maquiné, Estrada Grande, Frei Damião, Helder Maranhão;
  • Aquisição da unidade do Samu Araruna.
Estas foram algumas das ações realizadas nos mandatos da ex-prefeita Wilma Maranhão em Araruna. Com sua partida perderá Araruna uma de suas maiores e mais emblemáticas lideranças políticas, que sem duvidas estará marcada na história por seu legado. 

Wellington Rafael da SIlva

Referências:
Diário Oficial do Estado da Paraíba. Ano III. João Pessoa. 1º de Nov. de 1960. nº 420. 
FISCO. Ano XXXI, nº 308, Set. 1999. 
SILVA. Wellington Rafael. Política & Poder em Araruna (1976/2022).

28 comentários:

  1. Wilma Maranhão fez história em Araruna, apoiada em uma sólida base aleitoral dominou a política por várias décadas. Ótima explanação acerca de sua trajetória pessoal partidária.

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  2. Meus parabéns meu amigo pelo seu lindo trabalho 👏👏👏

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  3. Uma grande mulher. Araruna perdeu uma referência histórica.Seu nome ficará gravado no acervo de obras que realizou. Vai em paz WILMA.

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  4. O legado e a sua história jamais será esquecido e nem apagado! Os Ararunenses hoje perdem uma mãe que tanto fez pelo seu povo! Referência, liderança, força, inspiração e exemplo são alguns adjetivos que denominavam essa grande mulher! A nossa rosa vermelha 🌹❤️

    Parabéns, Wellington, por mostrar a história de forma tão fidedigna, com essa riqueza de detalhes, brilhante sua explanação! 👏👏👏

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  5. Sem sombras de Dúvidas a maior liderança política da história de nossa cidade.

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  6. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻🌹

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  7. Uma mulher de caráter e respeito uma autoridade imensurável em araruna, jamais será esquecida eterna WILMA MARANHÃO 🌹🖤

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  8. Linda história jamais será esquecida 👏🏻🖤🥀

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  9. Um exemplo de mulher pública admirável!
    Deixa um legado a ser seguido!
    Descanse em paz!

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  10. Linda história 👏🏻👏🏻👏🏻

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  11. Parabéns pelo trabalho, tão rico de detalhes e fatos históricos.

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  12. Linda história verdadeira mulher batalhadora 🤍

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  13. 👏👏👏👏👏👏👏👏

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  14. Só gratidão por tudo que ela fez por Araruna,por muitos que ela ajudou. Ficará na história de Araruna e região o quanto dona Wilma,Zé Maranhão e família contribui para o crescimento de Araruna.

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  15. Parabéns ao escritor que narrou tão linda história de vida Araruna de luto por uma Mulher que muito guerreira foi que muito fez pelos pobres nunca iremos esquecer da nossa rosa vermelha Doutora Wilma Maranhão .

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  16. Parabéns Pelo texto...Dra Wilma Maranhão deixou seu legado...um orgulho para os ararunenses e para mim que por 18 anos tive o privilégio de trabalhar com ela. GRATIDÃO!SEMPRE

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  17. Parabéns ficou perfeito 👏👏👏👏

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  18. Parabéns ficou muito lindo

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  19. Parabéns a esse grande homem, que como sua sabedoria humana, escreveu uma bela história, da nossa inesquecível Wilma Maranhão, que vai ficar sempre nas nossas memórias, a grande mulher que foi dona Wilma, não é atoa que ela recebeu o título da mãe da pobreza.

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  20. Linda história que jamais pode ser esquecida ou apagada, por mas que tentem nunca serão capaz de imitar tanta dedicação e capacidade. Wilma fez muito por está cidade. Ela amava Araruna co.o uma mãe. O pouco de conversa que tive com ela em 2018. Ela pode relatar a tristeza de ter o hospital fechado. Linda homenagem.

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  21. E tbm foi revoltante a atitude do atual prefeito. Em pleno momento de receber para despedida de dona Wilma. O mesmo fez questão de deixar a principal avenida interditada. Revoltante.

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  22. linda história! parabéns.

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  23. Wilma sempre terá minha gratidão por tudo qui fez pela nossa cidade gratidão sempre ela será lembrada sempre a nossa 🌷🌹 vermelha.

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  24. A mãe da pobreza, tive o imenso prazer de trabalhar em sua gestão , conhecer um ser humano tão bom ! Obrigada pelo carinho. At. te Jakelyne Pontes

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