Padre Joaquim de Sousa Simões |
Certamente uma das personalidades mais marcantes da história de Araruna é representada pelo Monsenhor Joaquim de Sousa Simões, não apenas pelo seu longo período a frente da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, mas por sua grande dinamização social no município e região, tendo além de sua ação pastoral, ter prestado serviços relevantes a comunidade, seja exercendo o magistério, criando colégio, fundando hospital, ou outras realizações.
Nascido aos 20 de abril de 1908 no Engenho Central São João, em Santa Rita - PB, foi fruto da filiação do casal Francisco de Sousa Simões e Filomena de Sousa Simões, tendo como irmãos: João, Antônio, Severino, Heleno, Luzia, Severino e a irmã adotiva (prima) Maria Freire Simões. Foi o sexto filho desta família de agricultores.
Passou sua infância com a família junto de seus avós em Alagoinha - PB, dividindo-se juntamente com seus irmãos entre a agricultura e a escola, tendo sido agricultor por sua conta até os 13 anos de idade. Porém, desde cedo demonstrou ter vocação para o sacerdócio, tendo sido este oficio sua grande vontade, as denominadas "Santas Missões" ocorridas em Alagoinha em 1923, teria lhe atraído a atenção e sido grandes influenciadores.
Padre Joaquim de Sousa Simões ao lado de sua genitora D. Filomena de Sousa Simões. Década de 1920. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana |
Ingressou no Seminário da Paraíba aos 17 anos, em substituição de seu irmão Heleno, que através de uma grande enfermidade não pode continuar, o jovem Joaquim então teve sua pensão paga por Heleno e pela irmã Luzia, que lhe enviava quase todo ordenado por mês de seu trabalho como professora. Foi durante seu período no seminário que demonstrou seu gosto por instrumentos musicais, gostava de tocar órgão e sanfona, talentos estes que continuou exercendo como lazer no decorrer da vida.
Enfim, se ordenou aos 27 anos de idade, no ano de 1935, onde posteriormente exerceu a função de professor de música e vice-diretor do Colégio Diocesano, até 1937, pois em 1938 recebeu o convite para ser vigário na Paróquia de Ingá e Serra Redonda, por onde exerceu sua função por cerca de 10 anos, trabalhou também no jornal da diocese A Imprensa, até o fechamento da mesma por uma crise política com o Governo da Paraíba, trabalhou ainda com vocações sacerdotais em favor de seminarista carentes, onde recebeu um novo convite, desta vez para ser pároco de Araruna.
Padre Joaquim rodeado por pombos, durante viagem a Veneza - ITA. Em 1950. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana |
O Padre Joaquim chega a Araruna, em 1953, para substituir o Padre Epaminondas, tendo sido recepcionado por pessoas ligadas ao Apostolado da Oração e da Cruzada Eucarística, além de catequistas, para surpresa de muitos já no seu primeiro contato puxou sua sanfona e começou a tocar e cantar, mostrando de antemão ter uma personalidade forte e surpreendente, cativando a todos já de inicio.
Teve como uma de suas primeiras missões preparar a paróquia para o seu centenário em 1954, promovendo uma grande festa. Nasce neste momento uma das mais controversas ações do Pe. Joaquim em Araruna, onde o mesmo decidiu realizar uma reforma na igreja matriz, onde através dela, diversos aspectos originais da matriz foram perdidos, a reforma culminou na destruição dos gigantes de sustentação na parte externa da igreja, que desfiguraram o traçado arquitetônico original da matriz, além de seus pináculos superiores, internamente foi responsável pela destruição do altar-mór, dois altares laterais: o de São Sebastião e o do Bom Jesus, entre outros espaços.
Embora tenha havido a resistência de alguns como o Senhor Benedito Fialho, a população em geral não se comoveu e aceitou pacificamente as alterações realizadas pelo Pe. Joaquim embasadas sobretudo por suas boas intenções, mesmo que por infelicidade tenham causado danosas e irreversíveis modificações a Igreja Matriz. Segundo Humberto Fonseca de Lucena a respeito destas alterações da igreja durante a reforma: "Certa ou errada, a reforma da matriz se tornou uma das suas maiores realizações e mostrou que o novo vigário tinha chegado a Araruna para ficar. Sua determinação e dinamismo eram um exemplo para os que não acreditavam no poder da iniciativa pessoal." (LUCENA, 2000, p. 108).
Pe. Joaquim realizando sua primeira comunhão em Tacima - PB, aos 18 de janeiro de 1963. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
As ações do Pe. Joaquim, no entanto, não se restringiram as atividades religiosas, tendo através de forte necessidade social, ter fundado a Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima registrado no Livro de Tombo em junho de 1955, onde no mesmo ano Araruna através dos esforços do líder político e empresário Benjamim Gomes Maranhão, também fora registrado o Hospital e Maternidade Maria Júlia Maranhão, inaugurado em 1954. Porém diferente deste segundo, que até hoje presta serviços a comunidade ararunense, a chamada "Maternidade do Padre" que funcionava onde atualmente fica a casa paroquial, teve duração mais curta, tendo fechado suas portas aos 9 de abril de 1964, diante de grave crise financeira. além de problemas políticos que envolviam o Pe. Joaquim e políticos locais.
A vida dinâmica do Monsenhor Joaquim de Sousa Simões o levou ainda a fundar um Sindicato de Operários Camponeses em 1962, o que o fez ser alvo de constantes observações por parte dos regimes militares, tendo sido preso em 1964, acusado de participar de "reuniões secretas" com os membros de sua criada associação operária.
Visita missionária de Frei Damião a Passa e Fica/RN, durante os anos 1980, entre outros Mons. Joaquim de Sousa Simões. Fonte: Acervo de João Bosco Moura. |
O padre Joaquim promoveu diversas visitas missionarias em Araruna, como as de Frei Damião e Frei Fernando, além de ter se destacado no magistério ararunense, tendo sido professor de português do extinto Ginásio Pereira da Silva que ajudou a fundar, chegando ao cargo de diretor, substituindo o primeiro diretor o Sr. Almir Carneiro da Fonseca, o Pe. Joaquim ainda chegou a ser diretor da nova escola de estadual de Araruna, denominada "Benjamim Maranhão". Além disto, Padre Joaquim foi responsável pela construção da nova igreja de Cacimba de Dentro, inaugurada em 1963.
No ano de 1971, se encontrava o Padre Joaquim se formando no curso de Direito pela Faculdade de Direito de Campina Grande, demonstrando mais uma vez uma força inquietadora, que o tornava um homem constantemente renovador de si mesmo.
Formatura do Pe. Joaquim em Direito, em Campina Grande aos 07-12-1971. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
Padre Joaquim durante sua formatura em Direito, com Rita Ana e Lúcia. 1971. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
Formatura em Direito, sem a beca, com Rita Ana e Lúcia. 1971. Fonte: Acervo de Doma Rita Ana. |
A Senhora Odete Targino e o Senhor Antonio Martins durante 1ª Comunhão de seu filho Ataulfo Targino. Inicio da década de 1980. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
Monsenhor Joaquim durante afago ao pequeno Ataulfo Targino, durante 1ª comunhão. Inicio da década de 1980. Fonte: Acervo de Dona Rota Ana. |
Foram se passando os anos, e as relações do Pe. Joaquim com sua paróquia se entrelaçavam cada vez mais, recebendo título de cidadão ararunense em 1983 das mãos da então prefeita Maria Celeste Torres da Silva, até que em 1989, já com a idade avançada (81 anos), começou a sentir problemas de saúde, que levaram a Diocese de Guarabira a enviar o Padre Francisco de Assis, para Araruna, afim deste seguir com os destinos da paróquia, e auxiliar o padre titular, o Padre Joaquim, a relação entre dois, embora que com muitas diferenças em diversos casos, aconteceu de forma harmoniosa. Até que 1993, o Padre Assis recebeu o convite de se tornar o pároco de Arara - PB, desta forma foi substituído em Araruna pelo Padre Cícero Roberto que permaneceu até o ano de 1996, e posteriormente pelo padre Christian Muffler, popular Padre Cristiano, todos no auxilio ao padre Joaquim.
Prefeita Maria Celeste Torres concedendo título de cidadão ararunense ao Monsenhor Joaquim de Sousa Simões, em 17 de dezembro de 1983. Fonte: Acervo de Ana Maria Queiroga |
Padre Joaquim com seu papagaio. Década de 1990. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana |
Padre Joaquim em momento de descontração. Década de 1990. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
Pe. Joaquim em frente a casa paroquial. Década de 1990. Fonte Acervo de Dona Rita Ana.
|
Estela Maris Câmara, Pe. Joaquim e o Senhor Fausto, 1992. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
Monsenhor Joaquim de Sousa Simões na nova cobertura da igreja matriz em 1992. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
Mons. Joaquim acompanhado entre outros de: Antônio Fonseca, Ernani Moura, Zé Torres e Agenor Targino. Década de 1990,. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
Homem de atitudes e personalidade forte, também era uma pessoa calma, gostava de cativar, era costumeiramente flagrado ao tocar a sua "sarafina", uma espécime de órgão na igreja matriz, gostava também de animais de estimação, tendo criado entre outros, um papagaio e um gato, ao qual por brincadeira tentava fazer com que brigassem, porém em vão, ambos se davam muito bem.
Monsenhor Joaquim de Sousa Simões, no final da década de 1990. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
Pressentindo o prenuncio do término de uma longa caminhada, escreveu uma carta que demonstra sentimento de que sabia que sua hora se aproximava, a seguir reflexões escritas por ele, repassadas pela sua secretária e amiga para todas as horas Dona Rita Ana, e transmitidas ao pesquisador Humberto Lucena:
De onde venho e para onde vou chegando? Venho da primeira década do século XX e estou trepando no último ano da última década do mesmo século. Uma vida bem comprida e não cumprida. Está bem longe o berço e a sepultura bem perto. Ouço o repique de sino anunciando a morte deste mastodonte.
Para mim foi ontem. Há razão para isto. A vida por mais amarga não deixa de ser "dolce vita".
Trepado nos 91 anos, parece que estou vivendo os dezenove. Engano da peste! Não passo de um saco de peças desacunhadas falando sem língua para o mundo vivo: "fui o que és e serás o que sou".
Esta é a minha realidade atual que me proporciona, ainda, tanta alegria, e que comunicada aos desesperados daria felicidade a multidões de infelizes.
Se bastou uma costela de Adão para que ele tivesse a sua companheira, quantos modelos não dariam os meus e as minhas que conduzo numa sacola de pele.
Com vocês a coisa a outra. Um novo século se abre e sorri, num otimismo completo de criatividade.
Um cheiro de incenso anunciava presenças divinas nas coisas humanas.
O Padre Joaquim, faleceu no dia 6 de fevereiro de 1999, aos 91 anos de idade, seu corpo foi levada para outras cidades da paróquia de Araruna, passando por Cacimba de Dentro, Tacima e Riachão, tendo sido sepultado na manhã do dia seguinte na própria Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, onde se encontram outros padres, mas diferente destes, que se encontram nas paredes do templo religioso, o Monsenhor Joaquim de Sousa Simões teve seu corpo enterrado em um espaço em uma das 5 entradas frontais da igreja.
A lembrança do Monsenhor Joaquim de Sousa Simões é sem duvidas uma das personalidades mais presentes na memória do povo ararunense, não somente pelo longínquo paroquiato de 46 anos a frente da paróquia de Araruna, mas por todos os seus laços constituídos nesta sociedade, com sua morte encerrou-se o percurso de um homem que teve durante a sua trajetória uma constante demonstração de força e de vontade de além de viver, se sentir vivo.
Homenagem do povo de Serra Redonda ao seu antigo vigário Joaquim de Sousa Simões após falecimento. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana. |
Wellington Rafael
Referências:
* Rita Ana, ex-secretária do Monsenhor Joaquim de Sousa Simões.
* LUCENA, Humberto F. A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Serra de Araruna. A União Editora, João Pessoa - PB. 2000.
Parabéns Wellington Rafael, lindo trabalho !
ResponderExcluirFabuloso trabalho Wellington Rafael, trabalho magnífico...
ResponderExcluirContinue mostrando a todos a belíssima historia dos cidadãos que por Araruna passaram... Que marcaram nossas vidas e que mudaram a história da nossa cidade... Você é um historiador maravilhoso...
Muito bom relembrar alguém que fez parte de nossa vida.
ResponderExcluirParabéns Wellington.
Sem palavras para descrever a emoção ao ler seu texto, pois Monsenhor Joaquim faz parte de minha vida cristã, então juntou meu olhar de historiadora com a emoção (e ousadia) de me colocar como sujeito no seu texto. Parabéns!!! Lhe admiro muito! ;)
ResponderExcluirobrigado monsenhor Joaquim foi quem mim batizou Deus o tenha!
ResponderExcluirsoi de santa cruz RN
Muito emocao em rever estas fotos padre joaquim da matriz nossa senhira da conceicao
ResponderExcluir