![]() |
A. J. Pereira da Silva com fardão da ABL |
Foi na Vila d'Araruna, que nasceu Antônio
Joaquim Pereira da Silva, aos 6 de novembro de 1876, filho de Manoel Joaquim da
Silva, fabricante de violas e Maria Ercelina Pereira da Silva. Foi batizado no
dia 12 de março de 1877 pelo vigário Francisco Xavier da Rocha. Sobre a dedicação do pai, no ofício de
carpinteiro, disse:
“Meu pai era para
suas violas, por todo aquele mundo sertanejo, o que era Stradivarius para os
seus violinos”.
Teve uma infância pobre, quando o pai faleceu,
algum tempo depois, a mãe casou-se novamente e, para seguir o novo marido,
deixa-o aos cuidados da avó, e ele diz: “começou
aí toda a tristeza da minha vida”.
O prazer pela leitura aprendeu
com o tio Synézio Pereira da Cruz, no curso primário. Tinha por hábito, ler
tudo que estivesse ao seu alcance, como jornais velhos, livros de histórias,
romances. Aos 8 anos tornou-se coroinha na Capela da Conceição (Atual Igrejinha
de Santo Antônio), onde todo dia ajudava à missa.
“Ao saber ler e escrever era minha ocupação
no casarão dos meus avós, ler entre laranjeiras floridas. E o fazia em voz
alta, para maior deleite dos meus sentidos”.
![]() |
Igrejinha de Santo Antônio |
Forçado pela fome e pela seca, em 1891,
aos 14 anos saiu de Araruna com a família, deixando á Paraíba e indo para o
estado do Rio de Janeiro. Pereira da Silva fez um depoimento sobre esta
transição: “A seca fez que minha família
abandonasse a minha terra. Viemos para o Rio. Nem calculará você as apreensões,
as decepções anônimas dos transplantados. A ilusão da cidade [...]”.
No Rio de Janeiro, começou a trabalhar, onde possuía jornada extensa de trabalho numa
oficina mecânica (das 6h ás 18 h), à noite estudava no Liceu de Artes e
Ofícios, logo obteve emprego na Estação da Estrada de Ferro Central, foi nesta
ocasião que iniciaram seus interesses pelos assuntos que remetiam a Literatura.
Em 1895, ingressa na Escola Militar da Praia Vermelha, onde em missão de suprir
sua carente instrução, esforça-se nos estudos, tendo reduzidas noites de sono.
Ao Paraná, foi
enviado, por ter participado de um movimento revolucionário para o 13º Batalhão
de Cavalaria em Curitiba. Após o ocorrido, Pereira da Silva lançou em 1903, o
seu primeiro livro, “Vae Soli!”, neste período, retorna ao Rio de Janeiro, e se
matricula em uma Faculdade de Direito.
Ainda
estudante, foi trabalhar no jornal “Cidade do Rio”, onde assinava com o
pseudônimo J.d’Além. O poeta ararunense esta época, convivia com uma geração
simbolista, como Felix Pacheco, Saturnino Meireles, Tibúrcio de Freitas e Rocha
Pombo, este último, tendo sido mais adiante seu sogro. Pereira da Silva enamora-se e casa com Eulina
(Lili), filha do mesmo, este casamento torna-se o infortúnio de sua vida, pela
não correspondência amorosa de sua esposa.
![]() |
Retrato de Formatura, primeira década do século XX. Fonte: Humberto F. de Lucena |
Foi promotor público ao voltar ao Paraná, em São José dos Pinhais, depois
Palmeira, no mesmo estado, aprendendo sozinho o alemão, língua que chegou a
publicar algumas notas no Jornal “Der Beobachter”. Desiludiu-se da carreira
jurídica, e exonerou-se da promotoria, voltando novamente ao Rio de Janeiro em
1911.
O jornalismo foi
à atividade que se entregou ao ir trabalhar na “Gazeta de Notícias”, no “Jornal
do Comércio”, em “A Noite”. Em 1918 lança seu segundo livro. “Solitudes”, em
que encontra grande sucesso. Ainda assim, Pereira da Silva já era um homem
amargurado, humilde e recatado.
A amargura que atormentou
sua vida é externada nos seus livros posteriores: “Beatitudes” (1919),
“Holocausto” (1921), “O Pó das Sandálias” (1923). Suas obras e suas críticas literárias, o tornaram
um nome nacional, chegando a revista “O Mundo Literário”, em que alcança
prestígio no meio cultural carioca. Em 1928, já menos angustiado, lança
“Senhora da Melancolia”. Viúvo, e em segundas núpcias, em 1930, reconstrói seu
lar, juntamente da esposa e seu filho Hélio, do primeiro casamento.
![]() |
O sacerdote da poesia em seu gabinete de trabalho. Fonte: Gilsa Elaine Ribeiro Andrade. |
O 1º Imortal Paraibano é
celebrado com alegria pelo Interventor Federal na Paraíba, Gratuliano de Brito,
em que recebeu de Alcides Carneiro a mensagem: “Nosso conterrâneo, Pereira da
Silva, eleito para a Academia, precisa de fardão e não tem tostão. Pedimos
ajuda da Paraíba”. O poeta de Araruna recebeu então, o fardão dado pela Paraíba, e foi homenageado pela bancada do Estado na Assembleia Nacional Constituinte, onde em nome dos paraibanos discursou o Dr. Castro Pinto.
O Poeta da Dor tornou-se o patrono da cadeira de nº 34 da Academia Paraibana de Letras, fundada em 1941.
Em plena emoção Pereira
da Silva descreve o momento: “Compreendeis a minha emoção. Que palavras íntimas
poderia eu invocar para exprimir, como desejaria, o meu reconhecimento ao
Governo da Paraíba, por este ato de generosidade e de estimulo da minha terra e
da minha gente? É a primeira vez, na vida, que se me depara a alegria. É bela e
radiosa demais para os meus olhos deslumbrados e para minha alma surpresa
[...]. Não é apenas uma vestidura acadêmica, mas a presença virtual de minha
terra e de minha gente ingressando comigo os pórticos da mais alta instituição
literária da Pátria”.
![]() |
Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, 26/06/1934. Fonte: Gilsa Elaine Ribeiro Andrade |
Pereira
da Silva na ABL dentre outras atividades, fez estudos aprofundados sobre
Machado de Assis, Gonçalves Dias, Silva Alvarenga, Adelmar Tavares e outros.
![]() |
O poeta Pereira da Silva, em fotografia enviada por Jorge Luís Pereira da Silva (neto) |
"Saudade, o inverso da esperança, cada instante vivo mais aumenta!"
"O Amor e a Fome são duas forças de impulsões fatais."
"Vive com tua dor, que esta jamais te ilude".
"Ninguém sabe no mundo o seu destino. E, muito menos, se o não merecia!..."
Seus últimos anos foram em
refúgios serranos do Rio de Janeiro: Pati dos Alferes, Vassouras, e por fim,
Rodeio. Pereira da Silva se sentia
doente de uma tuberculose, mesmo assim, em 1940, publica seu derradeiro livro:
“A Alta Noite”.
Isolado
num hotel antigo de uma pequena vila, o poeta ficou por muito tempo sozinho.
Era visitado algumas vezes pelo jornalista Jorge Azevedo, e também pelo seu
filho Hélio, que durante os sábados trazia-lhe o conforto que buscava. Mesmo
doente ainda escreveu: “Os homens de Deus e Milagres de Cristo”,
“Intranquilidade” e “Meus Irmão, os poetas”.
Sua morte ocorreu
no dia 11 de janeiro de 1944, às 18 horas, estando com 68 anos de idade, na
Clínica São Vicente, RJ, onde estava internado. Foi na sede da Academia
Brasileira de Letras que foi velado, tendo sido sepultado no Cemitério São João
Batista.
Múcio
Leão discursa na despedida do imortal paraibano:
“Pereira da Silva teve um destino, um único e
maravilhoso destino – o da Poesia. Nunca foi outra coisa, nunca ambicionou ser
outra coisa, senão esta coisa simples, misteriosa e divina – Um Poeta”.
_______________________________________________________________________
Referências
Bibliográficas:
Série: ARARUNA CULTURAL 1
ANDRADE. G. E. R. Pereira da Silva no campo literário: o discurso da crítica e dos periódicos (1890 - 1960). João Pessoa, 2015.
LUCENA.
H. F. de. A. J. Pereira da Silva (Primeiro Paraibano da Academia Brasileira de
Letras). Documento. João Pessoa. A União, 1993.
TAVARES.
A. Discurso de recepção de Pereira da Silva, pronunciado em 26.06.1934 na ABL.
In Discursos Acadêmicos (1933-1935), vol. VIII. Rio de Janeiro, Empresa Editora
ABC. Ltda., 1937.