terça-feira, 19 de novembro de 2013

Arara-Azul-de-Lear: Notas acerca da origem do nome Araruna

Arara-azul-de-lear / Foto: Renato Grimm
Cada lugar apresenta suas particularidades, costumes e tradições que permeiam seus valores, história e cultura. Dentre suas significações se faz importante entender o por que de determinados topônimos serem utilizados. É de conhecimento geral, que a denominação do município de Araruna/PB, seja proveniente da língua tupi e que denomina uma ave,  porém pouco se foi aprofundado dentre tantas espécies de aves, qual seria de fato a famosa A'rara una, falada pelos habitantes primitivos, os indígenas, deste lugar, e que foi transmitida através do dom da fala nominando as aves, a Serra de Araruna, e o próprio município.

A ave que primitivamente povoou os ares de Araruna, é segundo estudos de diversos ornitólogos (cientistas que se dedicam ao estudo das aves), possivelmente, a Arara-Azul-de-Lear, que não só era encontrada nesta região, mas por outros lugares do Nordeste. É uma ave da família dos Psittacidae de tamanho mediano e com suas penas na cor de um azul bem escuro, ao qual conheceremos melhor contextualizando-a com a origem do nome da cidade: ARARUNA.

Arara-azul-de-lear / Fonte: Projeto Arara Azul
Conta-se uma lenda nesta região em que alguns caçadores  ao atravessarem uma trilha nas serras viram um bando de araras fazendo um grande alarido. Daí, teriam exclamado: ARARUNAS!! Este local passou por eles a ser conhecido por "O lugar das Ararunas", que com o decorrer do tempo denominaram  o conjunto de serras de "Serra das Ararunas", tal qual denominamos até a contemporaneidade a serra onde se encrusta a cidade - Serra de Araruna.

O historiador Irineu Pinto, escreveu no jornal "A União", publicado no dia 21 de março de 1909, a respeito da região de Araruna, que nestas serras, existia uma grande pedra, onde as ararunas faziam seus ninhos, e que os viajantes a chamavam de "Pedra da Araruna", rocha esta, que com o decorrer do tempo passou a ser nomenclaturada como "Pedra da Boca", devido sua cavidade, decorrente de erosão.

Pedra da Boca, onde as "ararunas" faziam seus ninhos (Arquivo pessoal)
Contrafortes das Serras de Araruna e da Confusão, habitat primitivo das araras
Muitas pessoas desacreditam da existência destas aves na região, devido a muito tempo não serem mais avistadas, restando apenas como  possíveis indícios  de sua passagem, os ainda encontradas periquitos-da-caatinga (Aratinga cactorum), facilmente encontrados entre a Serra de Araruna e a divisa com o município de Japi/RN. As alegações da inexistências destas aves são refutadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que diz : "Essas aves eram abundantes na região"

Segundo Humberto Fonseca de Lucena, em Araruna - Anotações para sua história (1985): "O nome Araruna vem do tupi a'rara una e significa arara preta. Esta denominação decorre do fato de existirem à época do povoamento muitas dessas araras, que apesar do significado do nome (arara preta) distinguem-se pela plumagem azul escuro que, vistas à distância, aparecem negras".

Casal de Araras-Azuis-de-Lear em pleno voo / Foto: Projeto Arara Azul
Arara-Azul-de -Lear / Foto: Projeto Arara Azul
Grupo de araras em palmeira licuri  / Foto: Ciro Albano
Muito se especulou sobre a referida arara ser a Arara-Azul-Grande (Anodorhynchus hyacinthinus), ou até mesmo a Arara Canindé (Macrocerus ararauna) por seu nome se assemelhar a denominação primitiva A'rara una.

Envoltos a tantas duvidas, nos vem a constatação vinda através da Ornitologia, ramo cientifico que se dedica ao estuda das aves, que a A'rara una que habitava estas serras se tratava da Arara-Azul-de-Lear, a presença desta ave nestas serras do Curimataú Oriental paraibano são confirmadas por grandes pesquisadores como: Tomás Pompeu Souza Brasil (1863), José Fernando Pacheco (1953), Leon Francisco Clerot (1969). Onde informam que não existem mais araras em Araruna, e não possuírem duvidas de que já existiram  estas araras na localidade, "já que vem de longe no tempo as histórias sobre elas", onde consideram a arara-azul-de-lear como  a mais provável de ter ocorrido no município de Araruna.

Casal de Araras / Foto: Mavila 2012
Casal de Araras / Foto: Mavila 2012
Além destes, Weber Girão acredita que tenha ocorrido na região tanto a Anodorhynchus hyacinthinus, quanto a arara-azul-de-lear Anodorhynchus leari, onde cita como indicador disto a referência do naturalista Spix  em seu Glossário das Línguas Brasileiras, a descrição da etimologia de Araripe como "lugar das araras".

Com a chegada do homem na região das Serras de Araruna e da Confusão, e do atual Parque Pedra da Boca, tornou-se difícil as condições de sobrevivência destas aves, seja por transformação antrópica de seu habitat, ou até mesmos para fugir de caçadores, na realidade estas aves migraram de diversas regiões do Nordeste encontrando-se atualmente apenas um pequeno grupo de cerca de 1000 membros em área endêmica na Unidade de Conservação Serra Branca (Raso da Catarina), no município de Jeremoabo (Bahia), divisa com Sergipe.

A arara-azul-e-lear (Anodorhynchus leari) recebeu este nome após ter sido retratada em 1832 em "Illustrations of the Family of the Psittacidae, os Parrots", por Edward Lear, ao qual por homenagem fora repassado seu sobrenome para "batizar" a ave, mesmo ele tendo a classificado como da espécie Macrocerus hyacinthinus.

Litografia de Edward Lear em 1832, que contribuiu nos estudos e catalogação desta ave.

Ilustração feita por Eduardo Brettas e Dale Dyer, sobre as espécies de araras azuis no Brasil. Fonte: Intituto Arara Azul

Sua alimentação baseia-se no consumo de pequenos cocos da palmeira licuri, onde na escassez da mesma partem para alimentos alternativos, principalmente o milho, voando diariamente num raio de 60 km do local onde moram em busca de alimento, onde consomem cerca de 250 coquinhos licuri por dia. Vivem nas cavidades naturais dos paredões de arenito, geralmente voam em duplas, através de casais fixos até o fim da vida, reproduzem-se entre os meses de outubro e abril, a distinção entre adultos e filhotes é feita através de sua região perioftálmica amarela nos adultos e esbranquiçadas nos filhotes.

Arara-Azul-de-Lear, ave azul escura denominada a'rara una (arara negra) pelos nativos indígenas
Esta ave que hipoteticamente habitou na serras do município de Araruna, possui  tamanho mediano de cerca de 71 a 72 cm de comprimento, e está aos poucos saindo da lista de pretensos candidatos a extinção, através de projetos de preservação da espécie, que combate sobretudo seu principal motivo de declínio: o trafico ilegal para criadouros particulares no Brasil e exterior, além da destruição de seu habitat.
 Brasão de Araruna retratando como símbolo a arara e a Pedra da Boca



Bandeira de Araruna, criada em 1977, retrata uma arara preta estilizada.


A Arara-Azul-de-Lear, além de provavelmente nos ter provido a denominação A'rara una, do qual o nome Araruna foi oriundo, remeteu o topônimo Serra da Araruna, e é retratada  como simbolo municipal,  a arara da bandeira e do brasão do município.

 Wellington Rafael

Fonte: 
LEAR, Edward, 1812-1888 / Illustrations of the family of Psittacidae, or parrots: the greater part of them species hitherto unfigured, containing forty-two lithographic plates, drawn from life, and on stone (1832)
LUCENA, H.F. 1985 – ARARUNA- Anotações para a sua História. Coleção IV Centenário. Governo do Estado da Paraíba. João Pessoa, Paraíba. 
Municípios Brasileiros com nomes referentes a aves: http://www.ceo.org.br/municipios/municipios.htm
Portal Brasil: http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2013/10/icmbio-aprova-programa-de-cativeiro-da-arara-azul-de-lear
SILVA, Wellington Rafael da. Análise das transformações do espaço urbano na cidade de Araruna – PB, da fundação do povoado a 1967.

sábado, 2 de novembro de 2013

Memórias de Araruna: relembrando o Monsenhor Joaquim de Sousa Simões

Padre Joaquim de Sousa Simões
Certamente uma das personalidades mais marcantes da história de Araruna é representada pelo Monsenhor Joaquim de Sousa Simões, não apenas pelo seu longo período a frente da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, mas por sua grande dinamização social no município e região, tendo além de sua ação pastoral, ter prestado serviços relevantes  a comunidade, seja exercendo o magistério, criando colégio, fundando hospital, ou outras realizações.

Nascido aos 20 de abril de 1908 no Engenho Central São João, em Santa Rita - PB, foi fruto da filiação do casal Francisco de Sousa Simões e Filomena de Sousa Simões, tendo como irmãos: João, Antônio, Severino, Heleno, Luzia, Severino e a irmã adotiva (prima) Maria Freire Simões. Foi o sexto filho desta família de agricultores. 

Passou sua infância com a família junto de seus avós em Alagoinha - PB, dividindo-se juntamente com seus irmãos entre a agricultura e a escola, tendo sido agricultor por sua conta até os 13 anos de idade. Porém, desde cedo demonstrou ter vocação para o sacerdócio, tendo sido este oficio sua grande vontade, as denominadas "Santas Missões" ocorridas em Alagoinha em 1923, teria lhe atraído a atenção e sido grandes influenciadores.

Padre Joaquim de Sousa Simões ao lado de sua genitora D. Filomena de Sousa Simões.
Década de 1920. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana
Ingressou no Seminário da Paraíba aos 17 anos, em substituição de seu irmão Heleno, que através de uma grande enfermidade não pode continuar, o jovem Joaquim então teve sua pensão paga por Heleno e pela irmã Luzia, que lhe enviava quase todo ordenado por mês de seu trabalho como professora. Foi durante seu período no seminário que demonstrou seu gosto por instrumentos musicais, gostava de tocar órgão e sanfona, talentos estes que continuou exercendo como lazer  no decorrer da vida.

Enfim, se ordenou aos 27 anos de idade, no  ano de 1935, onde posteriormente exerceu a função de professor de música e vice-diretor do Colégio Diocesano, até 1937, pois em 1938 recebeu o convite para ser vigário na Paróquia de Ingá e Serra Redonda, por onde exerceu sua função por cerca de 10 anos, trabalhou também no jornal da diocese A Imprensa, até o fechamento da mesma por uma crise política com o Governo da Paraíba, trabalhou ainda com vocações sacerdotais em favor de seminarista carentes, onde recebeu um novo convite, desta vez para ser pároco de Araruna. 

Padre Joaquim rodeado por pombos, durante viagem a Veneza - ITA. Em 1950.
Fonte: Acervo de Dona Rita Ana
O Padre Joaquim chega a Araruna, em 1953, para substituir o Padre Epaminondas, tendo sido recepcionado por pessoas ligadas ao Apostolado da Oração e da Cruzada Eucarística, além de catequistas, para surpresa de muitos já no seu primeiro contato puxou sua sanfona e começou a tocar e cantar, mostrando de antemão ter uma personalidade forte e surpreendente, cativando a todos já de inicio. 

Teve como uma de suas primeiras missões preparar a paróquia para o seu centenário em 1954, promovendo uma grande festa. Nasce neste momento uma das mais controversas ações do Pe. Joaquim em Araruna, onde o mesmo decidiu realizar uma reforma na igreja matriz, onde através dela, diversos aspectos originais da matriz foram perdidos, a reforma culminou na destruição dos gigantes de sustentação na parte externa da igreja, que desfiguraram o  traçado arquitetônico original da matriz, além de seus pináculos superiores, internamente foi responsável pela destruição do altar-mór, dois altares laterais: o de São Sebastião e o do Bom Jesus, entre outros espaços.

 Embora tenha havido a resistência de alguns como o Senhor Benedito Fialho, a população em geral não se comoveu e aceitou pacificamente as alterações realizadas pelo Pe. Joaquim embasadas sobretudo por suas boas intenções, mesmo que por infelicidade tenham causado danosas e irreversíveis modificações a Igreja Matriz. Segundo Humberto Fonseca de Lucena a respeito destas alterações da igreja durante a reforma: "Certa ou errada, a reforma da matriz se tornou uma das suas maiores realizações e mostrou que o novo vigário tinha chegado a Araruna para ficar. Sua determinação e dinamismo eram um exemplo para os que não acreditavam no poder da iniciativa pessoal." (LUCENA, 2000, p. 108).

Pe. Joaquim realizando sua primeira comunhão em Tacima - PB, aos 18 de janeiro de 1963.
Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
As ações do Pe. Joaquim, no entanto, não se restringiram as atividades religiosas, tendo através de forte necessidade social, ter fundado a Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima registrado no Livro de Tombo em junho de 1955, onde no mesmo ano Araruna através dos esforços do líder político e empresário Benjamim Gomes Maranhão, também fora registrado o Hospital e Maternidade Maria Júlia Maranhão, inaugurado em 1954. Porém diferente deste segundo, que até hoje presta serviços a comunidade ararunense, a chamada "Maternidade do Padre" que funcionava onde atualmente fica a casa paroquial, teve duração mais curta, tendo fechado suas portas aos 9 de abril de 1964, diante de grave crise financeira. além de problemas políticos que envolviam o Pe. Joaquim e políticos locais.

A vida dinâmica do Monsenhor Joaquim de Sousa Simões o levou ainda a fundar um Sindicato de Operários Camponeses em 1962, o que o fez ser alvo de constantes observações por parte dos regimes militares, tendo sido preso em 1964, acusado de participar de "reuniões secretas" com os membros de sua criada associação operária.

Visita missionária de Frei Damião a Passa e Fica/RN, durante os anos 1980,
 entre outros Mons. Joaquim de Sousa Simões.
 Fonte: Acervo de João Bosco Moura.
O padre Joaquim promoveu diversas visitas missionarias em Araruna, como as  de Frei Damião e Frei Fernando, além de ter se destacado no magistério ararunense, tendo sido professor de português do extinto Ginásio Pereira da Silva que ajudou a fundar, chegando ao cargo de diretor, substituindo o primeiro diretor o Sr. Almir Carneiro da Fonseca, o Pe. Joaquim ainda chegou a ser diretor da nova escola de estadual de Araruna, denominada "Benjamim Maranhão". Além disto, Padre Joaquim foi responsável pela construção da nova igreja de Cacimba de Dentro, inaugurada em 1963. 

No ano de 1971, se encontrava o Padre Joaquim se formando no curso de Direito pela Faculdade de Direito de Campina Grande, demonstrando mais uma vez uma força inquietadora, que o tornava um homem constantemente renovador de si mesmo.

Formatura do Pe. Joaquim em Direito, em Campina Grande aos 07-12-1971.
Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Padre Joaquim durante sua formatura em Direito, com Rita Ana e Lúcia. 1971.
Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Formatura em Direito, sem a beca, com Rita Ana e Lúcia. 1971. Fonte: Acervo de Doma Rita Ana.
Padre Joaquim durante 1ª Comunhão das então crianças Jefferson e Jansem Targino,
 Década de 1970. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.

Mons. Joaquim com Jansem Targino. Década de 1970.
Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
A Senhora Odete Targino e o Senhor Antonio Martins durante 1ª Comunhão de seu filho Ataulfo Targino. Inicio da década de 1980. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Monsenhor Joaquim durante afago ao pequeno Ataulfo Targino, durante 1ª comunhão.
Inicio da década de 1980. Fonte: Acervo de Dona Rota Ana.
Foram se passando os anos, e as relações do Pe. Joaquim com sua paróquia se entrelaçavam cada vez mais, recebendo título de cidadão ararunense em 1983 das mãos da então prefeita Maria Celeste Torres da Silva, até que em 1989, já com a idade avançada (81 anos), começou a sentir problemas de saúde, que levaram a Diocese de Guarabira a enviar o Padre Francisco de Assis, para Araruna, afim deste seguir com os destinos da paróquia, e auxiliar o padre titular, o Padre Joaquim, a relação entre dois, embora que com muitas diferenças em diversos casos, aconteceu de forma harmoniosa.  Até que 1993, o Padre Assis recebeu o convite de se tornar o pároco de Arara - PB, desta forma foi substituído em Araruna pelo Padre Cícero Roberto que permaneceu até o ano de 1996, e posteriormente pelo padre Christian Muffler, popular Padre Cristiano, todos no auxilio ao padre Joaquim.

Monsenhor Joaquim com criança, em dezembro de 1980. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Prefeita Maria Celeste Torres concedendo título de cidadão ararunense ao Monsenhor Joaquim
de Sousa Simões, em 17 de dezembro de 1983. Fonte: Acervo de Ana Maria Queiroga

Padre Joaquim com seu papagaio. Década de 1990. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana
Padre Joaquim em momento de descontração. Década de 1990.
Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Pe. Joaquim em frente a casa paroquial. Década de 1990. Fonte Acervo de Dona Rita Ana.

Monsenhor Joaquim com o pequeno Jairo Lima na década de 1990.
Fonte: Jairo Lima 
Estela Maris Câmara, Pe. Joaquim e o Senhor Fausto, 1992.
 Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Monsenhor Joaquim de Sousa Simões na nova cobertura da igreja matriz em 1992.
Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Mons. Joaquim acompanhado entre outros de: Antônio Fonseca, Ernani Moura, Zé Torres e Agenor Targino.
Década de 1990,. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Os problemas de saúde do Padre Joaquim com o passar do tempo e da idade se tornando cada vez mais avançada, se agravaram, recebeu a implantação de um marcapasso, por recomendação de seu cardiologista, o ararunense e amigo João Bosco Teixeira no ano de 1994, o que não o impediu de realizar a celebração de 60 de sua ordenação sacerdotal em 1995, já aos 87 anos de idade. E assim foi seguindo sua vida, sempre querendo ser presente aos acontecimentos, se sentindo vivo e participativo na sociedade. 

Homem de atitudes e personalidade forte, também era uma pessoa calma, gostava de cativar, era costumeiramente flagrado ao tocar a sua "sarafina", uma espécime de órgão na igreja matriz, gostava também de animais de estimação, tendo criado entre outros, um papagaio e um gato, ao qual por brincadeira tentava fazer com que brigassem, porém em vão, ambos se davam muito bem. 

Monsenhor Joaquim de Sousa Simões, no final da década de 1990.
Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Pressentindo o prenuncio do término de uma longa caminhada, escreveu uma carta que demonstra sentimento de que sabia que sua hora se aproximava, a seguir reflexões escritas por ele, repassadas pela sua secretária e amiga para todas as horas Dona Rita Ana, e transmitidas ao pesquisador Humberto Lucena:

     De onde venho e para onde vou chegando? Venho da primeira década do século XX e estou trepando no último ano da última década do mesmo século. Uma vida bem comprida e não cumprida. Está bem longe o berço e a sepultura bem perto. Ouço o repique de sino anunciando a morte deste mastodonte.
         Para mim foi ontem. Há razão para isto. A vida por mais amarga não deixa de ser "dolce vita".
Trepado nos 91 anos, parece que estou vivendo os dezenove. Engano da peste! Não passo de um saco de peças desacunhadas falando sem língua para o mundo vivo: "fui o que és e serás o que sou".
       Esta é a minha realidade atual que me proporciona, ainda, tanta alegria, e que comunicada aos desesperados daria felicidade a multidões de infelizes.
     Se bastou uma costela de Adão para que ele tivesse a sua companheira, quantos modelos não dariam os meus e as minhas que conduzo numa sacola de pele.
   Com vocês a coisa a outra. Um novo século se abre e sorri, num otimismo completo de criatividade.
      Um cheiro de incenso anunciava presenças divinas nas coisas humanas.

O Padre Joaquim, faleceu no dia 6 de fevereiro de 1999, aos 91 anos de idade, seu corpo foi levada para outras cidades da paróquia de Araruna, passando por Cacimba de Dentro, Tacima e Riachão, tendo sido sepultado na manhã do dia seguinte na própria Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, onde se encontram outros padres, mas diferente destes, que se encontram nas paredes do templo religioso, o Monsenhor Joaquim de Sousa Simões teve seu corpo enterrado em um espaço em uma das 5 entradas frontais da igreja.

A lembrança do Monsenhor Joaquim de Sousa Simões é sem duvidas uma das personalidades mais presentes na memória do povo ararunense, não somente pelo longínquo paroquiato de 46 anos a frente da paróquia de Araruna, mas por todos os seus laços constituídos nesta sociedade, com sua morte encerrou-se o percurso de um homem que teve durante a sua trajetória uma constante demonstração de força e de vontade de além de viver, se sentir vivo.

Homenagem do povo de Serra Redonda ao seu antigo vigário Joaquim de Sousa Simões
após falecimento. Fonte: Acervo de Dona Rita Ana.
Wellington Rafael

Referências:
* Rita Ana, ex-secretária do Monsenhor Joaquim de Sousa Simões.
* LUCENA, Humberto F. A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Serra de Araruna. A União Editora, João Pessoa - PB. 2000.